Dias atrás presenciamos o episódio em que um general quatro-estrelas que perdeu a função que exercia em virtude de ter emitido opiniões nada lisonjeiras sobre o Plano de Direitos Humanos que o governo lançou, numa clara quebra de hierarquia
Perfeita a decisão. Hierarquia é fundamento básico de qualquer força militar, e nenhum militar na ativa pode questionar o poder civil. Sem exceções. Quanto ao conteúdo das críticas, foi um amontoado de bobagens que ninguém leva a sério, exceto os saudosistas da Redentora e os inimigos transloucados do atual governo. Governo que tem seus erros (muitos) e acertos (outro tanto), mas que não pode ser acusado de revanchista e inimigo da democracia.
Por um acaso, logo depois do episódio entrei em contato mais próximo com a história de vida de um militar que, por não ter as melhores relações com alguns dos cabeças do Golpe de 64 e com alguns dos expoentes da linha-dura do regime militar que se seguiu, teve seu nome colocado em uma "lista negra" daqueles de quem não se devia falar (pelo menos não aberta e elogiosamente) dentro dos quarteis e instituições militares.
Falo do Marechal-do Ar Casimiro Montenegro Filho. Para aqueles não estão ligando o nome às realizações, basta lembrar que esse meu conterrâneo foi o criador do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). E que consegui esses intentos tendo que vencer a resistência do governo de então e de parte de seus companheiros de farda.
Ele foi objeto de várias biografias, sendo a mais conhecida a escrita por Fernando Morais com o título "Montenegro - As aventuras de um Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil ". Leitura agradável e muito esclarecedora sobre um pedaço da história de nosso país, mais especificamente a que vai do fim da 2ª Guerra até meados dos anos 60.
Nela fica claro o caráter obscurantista de diversos personagens que povoaram os quartéis e a política brasileira naquele período e um pouco além.
O patrono da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Eduardo Gomes, é um que sai com a biografia bem chamuscada. Além de ter ideias políticas marcadas por um anti-comunismo exacerbado, que conseguia ver maquinações esquerdistas em pessoas e/ou movimentos apenas nacionalistas (ou nem isso), fica a imagem de alguém chegado a mesquinharias e que não conseguia enxergar o futuro nem mesmo em sua própria área de atuação. Por exemplo, se opunha firmemente ao trabalho que Montenegro realizava visando parcerias com industrias avançadas para desenvolver a fabricação de aviões a jato no Brasil, coisa que para Gomes não tinha futuro.
Se para medir a grandeza de um homem uma das formas é saber quem são seus inimigos, Montenegro está bem na foto. Além de Eduardo Gomes (que o perseguiu enquanto pode, até conseguir afastá-lo do ITA, no pós-Golpe), se alinhava entre seus adversários o famoso brigadeiro João Paulo Burnier, ultra-radical no espectro político responsável pelo planejamento do que ficou conhecido como Caso Para-SAR e, posteriormente, acusado de ser o responsável pela morte do militante Stuart Angel durante sessões de tortura.
É bem capaz que alguém aí venha dizer: "Mas o Fernando Morais é esquerdista, deve ter distorcido os fatos...".
Pois bem, também me deparei com esta resenha do livro feita pelo pesquisador Sued Castro Lima, que não por acaso é coronel-aviador da reserva, e na qual ele referenda a quase totalidade do conteúdo do livro.
Outro texto interessante sobre o mesmo tema é o escrito pelo engenheiro Armando Milioni, onde se lança alguma luz sobre as entranhas do ITA, especialmente durante a ditadura, mas também em dias mais próximos.
Neste dia 26 de fevereiro completam-se 10 anos da morte do Marechal Montenegro.
Ele permanece um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria do nosso povo. Mesmo entre aqueles com um grau de instrução/informação acima da média dos brasileiros esse desconhecimento é marcante.
Por que será?
Talvez por ele ter apresentado uma visão de Brasil diferente da defendida por grande parte das nossas elites, que enxergavam quase nada além dos próprios interesses (frequentemente entreguistas). Ou talvez também porque, apesar de passar longe de ser um progressista na política (na verdade ele era bem conservador, apoiou os movimentos contra Getúlio, Juscelino e Jango), nunca participou ou concordou com perseguições tipo caça às bruxas, como as ocorridas no pós-64.
Perfeita a decisão. Hierarquia é fundamento básico de qualquer força militar, e nenhum militar na ativa pode questionar o poder civil. Sem exceções. Quanto ao conteúdo das críticas, foi um amontoado de bobagens que ninguém leva a sério, exceto os saudosistas da Redentora e os inimigos transloucados do atual governo. Governo que tem seus erros (muitos) e acertos (outro tanto), mas que não pode ser acusado de revanchista e inimigo da democracia.
Por um acaso, logo depois do episódio entrei em contato mais próximo com a história de vida de um militar que, por não ter as melhores relações com alguns dos cabeças do Golpe de 64 e com alguns dos expoentes da linha-dura do regime militar que se seguiu, teve seu nome colocado em uma "lista negra" daqueles de quem não se devia falar (pelo menos não aberta e elogiosamente) dentro dos quarteis e instituições militares.
Falo do Marechal-do Ar Casimiro Montenegro Filho. Para aqueles não estão ligando o nome às realizações, basta lembrar que esse meu conterrâneo foi o criador do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). E que consegui esses intentos tendo que vencer a resistência do governo de então e de parte de seus companheiros de farda.
Ele foi objeto de várias biografias, sendo a mais conhecida a escrita por Fernando Morais com o título "Montenegro - As aventuras de um Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil ". Leitura agradável e muito esclarecedora sobre um pedaço da história de nosso país, mais especificamente a que vai do fim da 2ª Guerra até meados dos anos 60.
Nela fica claro o caráter obscurantista de diversos personagens que povoaram os quartéis e a política brasileira naquele período e um pouco além.
O patrono da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Eduardo Gomes, é um que sai com a biografia bem chamuscada. Além de ter ideias políticas marcadas por um anti-comunismo exacerbado, que conseguia ver maquinações esquerdistas em pessoas e/ou movimentos apenas nacionalistas (ou nem isso), fica a imagem de alguém chegado a mesquinharias e que não conseguia enxergar o futuro nem mesmo em sua própria área de atuação. Por exemplo, se opunha firmemente ao trabalho que Montenegro realizava visando parcerias com industrias avançadas para desenvolver a fabricação de aviões a jato no Brasil, coisa que para Gomes não tinha futuro.
Se para medir a grandeza de um homem uma das formas é saber quem são seus inimigos, Montenegro está bem na foto. Além de Eduardo Gomes (que o perseguiu enquanto pode, até conseguir afastá-lo do ITA, no pós-Golpe), se alinhava entre seus adversários o famoso brigadeiro João Paulo Burnier, ultra-radical no espectro político responsável pelo planejamento do que ficou conhecido como Caso Para-SAR e, posteriormente, acusado de ser o responsável pela morte do militante Stuart Angel durante sessões de tortura.
É bem capaz que alguém aí venha dizer: "Mas o Fernando Morais é esquerdista, deve ter distorcido os fatos...".
Pois bem, também me deparei com esta resenha do livro feita pelo pesquisador Sued Castro Lima, que não por acaso é coronel-aviador da reserva, e na qual ele referenda a quase totalidade do conteúdo do livro.
Outro texto interessante sobre o mesmo tema é o escrito pelo engenheiro Armando Milioni, onde se lança alguma luz sobre as entranhas do ITA, especialmente durante a ditadura, mas também em dias mais próximos.
Neste dia 26 de fevereiro completam-se 10 anos da morte do Marechal Montenegro.
Ele permanece um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria do nosso povo. Mesmo entre aqueles com um grau de instrução/informação acima da média dos brasileiros esse desconhecimento é marcante.
Por que será?
Talvez por ele ter apresentado uma visão de Brasil diferente da defendida por grande parte das nossas elites, que enxergavam quase nada além dos próprios interesses (frequentemente entreguistas). Ou talvez também porque, apesar de passar longe de ser um progressista na política (na verdade ele era bem conservador, apoiou os movimentos contra Getúlio, Juscelino e Jango), nunca participou ou concordou com perseguições tipo caça às bruxas, como as ocorridas no pós-64.